Introdução
Estudado com lupa há séculos, por todas as disciplinas, o riso esconde seu mistério. Alternadamente agressivo, sarcástico, escarnecedor, amigá-vel, sardônico, angélico, tomando as formas da ironia, do humor, do burles-co, do grotesco, ele é multiforme, ambivalente, ambíguo. Pode expressar tanto a alegria pura quanto o triunfo maldoso, o orgulho ou a simpatia. É isso que faz sua riqueza e fascinação ou, às vezes, seu caráter inquietante, porque, segundo escreve Howard Bloch, "como Merlim, o riso é um fenômeno liminar, um produto das soleiras, ... o riso está a cavalo sobre uma dupla verdade. Serve ao mesmo tempo para afirmar e para subverter". Na encruzilhada do físico e do psíquico, do individual e do social, do divino e do diabólico, ele flutua no equívoco, na indeterminação. Portanto, tem tudo para seduzir o espírito moderno.
Fenômeno universal, ele pode variar muito de uma sociedade para outra, no tempo ou no espaço. Já em 1956, Edmund Bergler, em Laughter and sense of humour, apontava mais de oitenta teorias sobre a natureza e a origem do riso, e a lista prolongou-se depois. Se os etnólogos e os sociólogos exploraram largamente a panóplia geográfica do riso, os historiadores só recentemente se interessaram pelo fenômeno. Como sempre, preocupações ideológicas estavam na origem das investigações.