Rir do feio não só é comum como também considerado parte do ser humano. Assim, é normal absorvermos determinados conteúdo midiáticos sem refleti-los porque estes nos fazem rir, ou é preciso suscitar uma reflexão sobre aquilo que recebemos? Será que somos o que consumimos? Se formos, então devemos compreender que é inerente ao ser humano a admiração pela nudez, o sexo, a violência, pelo desprezo e o que é diferente? Afinal, o que é o grotesco e como ele se manifesta no nosso dia a dia?
Por grotesco pode-se entender, resumidamente, tudo aquilo que se utiliza do rebaixamento, deslocamento de sentidos, tudo aquilo que faz uso de situações absurdas, emerge na animalidade, utiliza-se das partes baixas do corpo (ou faz referência a ela) como forma de atingir o riso. Apesar das críticas aos fenômenos grotesco/midiático, ele está presente na sociedade desde os tempos remotos, sobrevivendo até os dias atuais das mais diversas maneiras, em várias ferramentas estéticas e artísticas.
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Uma Velha Grotesca. After Quinten Metsys (1465/1530). |
O termo deriva da palavra latina la grota que significa gruta ou pequena caverna. Tal expressão surgiu no século XIV quando foram descobertos estranhos ornamentos soterrados em Roma, nos corredores e salões do antigo Palácio Domus Aurea, uma construção requisita pelo Imperador Nero após o grande incêndio que consumiu boa parte da cidade em 64 d.C. ( o qual se atribui a ele). Nesse espaços subterrâneos, reabertos de quase mil e quinhentos anos foram descobertos imagens, figuras e estátuas representando pessoas e de idades metade gente e metade animal.
Como categoria estética, o grotesco é estudado por meio de modalidades expressivas, sempre associado ao diferente, ao feio. Pode ser escatológico, ao apoiar-se em situações caracterizadas pela referência a dejetos humanos, secreções, partes baixas do corpo; ou teratólogico quando explora a monstruosidade, as aberrações e o bestialismo; Chocante é o grotesco presente nas duas formas anteriores e tem o objetivo de provocar no espectador ou contemplador um choque perceptivo, geralmente com intenções sensacionalistas, podendo ser chamado de "grotesco chocante".
E o grotesco crítico que expõe um discernimento formativo, ou seja, além da percepção sensorial do fenômeno, é desvelado o que se tenta ocultar (convenções, ideias) expondo de modo risível os mecanismo do poder abusivo. Esse efeito pode tomar a forma de caricatura ou paródia, provocando inquietações nas situações estabelecidas.