sexta-feira, 3 de maio de 2013

O império do grotesco na mídia radiofônica



O programa do Mução usa as técnicas do radioteatro e juntamente com outros radialistas interpretam diversos personagens que alegram os ouvintes, como se estivessem numa roda de conversa entre amigos, conversando “bobagens” ou coisas triviais. Porém, o forte é o uso deliberado da comunicação do grotesco, visando dessa forma: fazer o público rir, atingir o maior público possível, fidelizar o ouvinte e atingir o povão de maneira mais direta, haja vista que o uso popularesco da linguagem reforça os vínculos e as interações com a massa.

Personagens do programa.

A categoria estética do grotesco, enquanto manifestação de formas aberrantes e escatológicas do programa do Mução confirma a existência de um fenômeno que cada vez mais se amplia na vida contemporânea e nas produções da indústria cultural, com forte presença no campo das artes e principalmente da mídia, como salientam Sodré e Paiva (2002).


O uso de palavras de baixo calão nesses programas visa ao rebaixamento de valores e chocar os sujeitos, têm como meta provocar o riso cruel. Neles onde o indivíduo ri das mazelas do outro, evidencia o gosto pelo ridículo e pela excrescência, a partir da utilização do bathos retórico, em contraposição aos cânones da estética e da cultura elevada.

Esse fenômeno da profusão do grotesco na comunicação de massa, aponta ainda que a mídia massiva tende a utilizar dessa tipologia estética para ampliar seu público, fidelizar sua audiência e ao mesmo tempo provocar o riso fácil, acrítico – advindo da bizarrice e do rebaixamento do humano ao instinto animalesco, que fundam a estética do grotesco, sem muita preocupação ético-moral.

Já Bakhtin (1987) em sua análise sobre Rabelais enunciava em seus estudos sobre a estética da criação verbal e constituição da sua arqueologia do grotesco - a partir da fala do povo - o quanto a camada popular se identifica com o discurso teratológico e escatológico. Aponta que no Renascimento essa fala do grotesco/fala rebaixada e também das partes de baixo do homem – do corpo/tabu, do sexo, etc. – ou do discurso do cotidiano – estava presente nas tabernas, nas feiras, nas praças e nas festas do Renascimento – constatamos que hoje esse discurso do grotesco está nas Ágoras midiáticas. O espaço público foi subsumido pelo espaço midiático. Tanto a programação televisiva – vide o BBB, quanto a radiofônica têm como base a estética do grotesco.


O programa do Mução comprova que a comunicação e a estética do grotesco seduzem grande faixa de audiência radiofônica nacional. O grotesco está presente não apenas nesse tipo de programa “humorístico”, como na maioria de programas ditos jornalístico-policiais, que também sustentam sua audiência a partir da estética do grotesco.




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