sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Sobre o Belo e o Grotesco



O grotesco é o feio que também está inserido no campo da beleza, basta observarmos as obras grotescas de artistas renomados que, apesar de serem capazes de provocar espanto, nojo, repulsa, trazem fascínio em muitos contempladores e que por isso obtém sucesso e reconhecimento. Este recurso estético leva ao chão qualquer norma vigente e emerge tudo o que está lá embaixo. As partes baixas do corpo, bem como seus deslocamentos de sentido e as constantes referências às partes baixas do corpo, tais como os órgãos genitais e tudo o que é produzido por eles (urina, fezes, flatulências, etc.) recebem atenção especial, ficando em primeiro plano; enquanto leis e princípios éticos são rebaixados, expostos ao ridículo ou simplesmente levados ao desprezo, como ocorre no programa humorístico Hora do Mução.

Licurgo, Carniça, Candidato e Mamãe nos estúdios do programa do Mução. Foto: Flckr.


Os excessos apresentados no quadro Pegadinha do Mução, por exemplo, transformam em objeto de irrisão os personagens pertencentes a classes menos favorecidas ou que estão em posições desiguais no meio social e não trazem senão um afastamento de seu público em relação à consciência crítica sobre os problemas sociais, valoriza o vocabulário baixo, além de fortalecer estereótipos

O humor é visto como elemento atrativo, alheio a padrões preestabelecidos, funcionando assim como uma “válvula de escape”. A beleza encontrada nos produtos humorísticos não possui os mesmos significados que filósofos da Antiguidade ofereceram à palavra "belo". O vocábulo "ideia", inventado por Platão, definia o belo ("o belo é ideia") e como toda ideia, era mutável, suprassensível. Em Aristóteles, a beleza segue a simetria platônica, porém a transporta à Terra, dela fazendo a qualidade positiva das coisas em termos morais, sociais e perceptivos. O belo adquire valor estético na Modernidade, a partir das ideias de Immanuel Kant, ao designar que é belo tudo o que apraz universalmente e que desinteressado.

Escutura de Olivier de Sagazan.
Para Sodré e Paiva, na sociedade atual a experiência é caracterizada pela fragmentação dos valores, responsável por uma esteticidade difusa que interfere na experiência do belo. O feio não é o simples contrário do belo, nem está associado ao mal, pois a retirada de um aspecto presente em um objeto belo, por exemplo, não produz necessariamente o feio. Este tem suas particularidades de existência, não sendo o puro negativo do belo. É o caso da escultura ao lado, criada pelo artista plástico Olivier de Sagazan: horror ao extremo ou beleza artística?

De acordo com os autores, a estética na Idade Média estava mais voltada para os aspectos instrutivos do que prazenteiros da arte. Na Modernidade, com a difusão humanista da Poética de Aristóteles, surge a preocupação com os problemas da catarse trágica, da verossimilhança, da unidade da ação, coerência dos personagens, dentre outros.  Desde então, há um forte litígio entre os defensores do formalismo e os "subversivos", inventores de um outro tipo de diversão.
 





Referência bibliográfica:
SODRÉ, Muniz; PAIVA, Raquel. O império do grotesco. Rio de Janeiro: MAUD, 2002.

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