terça-feira, 30 de abril de 2013

Grotesco = Homem # Animal + Riso


O processo de rebaixamento humano ao nível da animalização, a base da produção do grotesco, está presente nos estudos canônicos da estética e da obra de arte. Bakhtin (1987, 1992) ao analisar a estética da comunicação verbal (a fala ordinária do povo) na Idade Média, a partir de Rabelais, confirma que a linguagem cotidiana do povo é sem maneirismo, diferentemente da fala da elite culta ou esclarecida. Nas feiras, festas e praças, onde há concentração de “pessoas simples”, ele identificou a presença constante da teratologia e da escatologia.

Michelangelo (1475-1564): Um dos nus do teto da Capela Sistina.
A partir daí demonstra que o discurso do grotesco, que sempre se refere às partes baixas, sexuais, carnais/animais dos homens traz implícita outra realidade – a da cultura do homem simples, ou seja, a presença da cultura popular, e uma linguagem popular forte em oposição à cultura de elite e à linguagem de elite, falada por poucos. Também Kaiser (2009) adentra nos estudos da estética do grotesco e Zampar (2010).

Contemporaneamente é Sodré (1972, 1992, 2002) um dos poucos teóricos brasileiros que reflete e fundamenta os estudos da escatologia, da teratologia – enfim, da comunicação do grotesco que se manifesta na mídia. O seu estudo pioneiro começa nas décadas d 1960-1970 com a obra clássica A comunicação do grotesco (Sodré, 1972), onde analisa o grotesco na televisão. Nesse trabalho pioneiro, ele desvela a estética do grotesco como elemento constitutivo dos principais programas de auditório da televisão brasileira, e que alcançavam grande audiência à época: Chacrinha, Sílvio Santos, Flávio Cavalcanti, Raul Longras e Hebe Camargo. 
Muniz Sodré, jornalista, sociólogo e tradutor brasileiro.
Adianta ainda que a supremacia mercadológica da TV popularesca foi consolidada no Brasil usando o grotesco. Fato comprovado na atualidade, para isso mencionamos os programas líderes em suas emissoras: Programa do Faustão, Programa do Gugu/Domingo Legal, Programa do Sílvio Santos, Programa do Ratinho, Programa do Leão e os realitys shows Casa dos Artistas, A Fazenda e Big Brother Brasil. Esse fenômeno de consagração do grotesco ocorre em todos os países, inclusive nas programações de rádio e tevê do “primeiro mundo”.

Reallity show Fazenda de Verão. Foto: Reprodução.
Em seu trabalho mais atual O império do grotesco, Sodré (2002) aprofunda sua reflexão definindo o que é o grotesco, sua categoria estética, seus gêneros e espécies tanto na literatura, no cinema e na televisão. E ressalta que:
A equação mais simples deste fenômeno esteticamente apontado como grotesco será: Grotesco = Homem # Animal + Riso. Daí partem as modalidades atinentes à escatologia, à teratologia, aos excessos corporais, às atitudes ridículas e, por derivação, a toda manifestação da paródia em que se produzem uma tensão risível, por efeito de um rebaixamento de valores (o bathos retórico), quanto à identidade de uma forma. [...] Pode-se rir do terrível ou das desproporções escandalosas das formas, transformando-os em veículo de irrisão e de provocação aos cânones do esteticamente correto. Esta possibilidade tem garantido a permanência do grotesco na História, assim como sua recorrência na vida, nas artes e na mídia contemporânea. Sodré (2002). 

Destacamos que há pouca bibliografia específica que estuda o grotesco no rádio, razão pela qual propomos estudar a mídia radiofônica, tendo como objeto o Programa do Mução.

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