terça-feira, 23 de abril de 2013

Programa do Mução: o grotesco no rádio

   

Rodrigo Vieira Emerenciano, o "Mução".

Diferentemente de outros veículos de comunicação massiva, o rádio tem na oralidade seu único suporte para a emissão de conteúdo midiático. Dessa forma, o ouvinte além de receptor é também coautor das mensagens emitidas, criando em seu imaginário a representação (simbólica) daquilo que ouve e que interpreta, de acordo com suas experiências pessoais.
 
O programa A Hora do Mução é um produto radiofônico de humor criado pelo radialista Rodrigo Vieira Emerenciano há 17 anos e hoje está presente em 972 cidades atingidas através de 59 afiliadas. Com isso, a cobertura populacional é de 33 milhões de habitantes (Tabela 1). Em Alagoas, o Programa do Mução é veiculado por duas rádios: a Pajuçara FM (103,7), de Maceió, e a Metropolitana FM (97,9), de Arapiraca.


Da esquerda para a direita: Licurgo, Carniça, Candidato e Mamãe, principais integrantes do programa.

Transmitido por diversas emissoras de rádio em todo o país e líder de audiência em muitas delas, o produto midiático Programa do Mução é classificado como humorístico e de entretenimento e tornou-se bastante conhecido pela utilização de termos pejorativos e palavras de baixo calão em seus quadros, em especial o intitulado Pegadinhas do Mução.

Seu personagem principal, Mução, é um locutor “idoso” criado e interpretado desde 2001 pelo humorista e radialista Rodrigo Vieira Emerenciano, natural do Rio Grande do Norte, mas que reside atualmente em Recife, onde o programa é gravado. Além dele, estão presentes na programação outras personagens, dentre as quais podem ser citadas: Mamãe, Carniça, Peru, Meninim, Licurgo, Catraia e Candidato. 

 Ação judicial


Em outubro do ano passado, o Tribunal de São Paulo do Potengi, Rio Grande do Norte, condenou a Rádio Estação Sat - Estúdios Reunidos Ltda a pagar a quantia de R$ 25 mil por danos morais a uma vítima da “Pegadinha do Mução”. Tratava-se de um taxista residente daquele município que, em maio de 2002, recebeu diversos telefonemas em seu local de trabalho e que, segundo relatou, partiram do "Programa do Mução", veiculado pela rádio. O cidadão disse sentir-se ridicularizado e que o trote lhe trouxe consequências negativas em sua vida pessoal e profissional.

De acordo com Peterson Fernandes Braga, juiz responsável pelo caso, ficou constatada a existência do dano "pelos transtornos psicológicos advindos da conduta omissiva e injustificável da Rádio Estação Sat” que, por sua vez, atribuiu a responsabilidade a RVE Produções Artísticas Ltda. Para Peterson, a rádio "não pode invocar a culpa exclusiva de terceiro, especialmente da produtora, vez que, o programa era veiculado sem qualquer controle da Rádio Estação Sat". Segundo ele, o valor a ser pago deve "servir de alerta ao ofensor, frente à negligência da emissora em aferir previamente os programas colocados no ar".

O Programa do Mução, e especificamente seu quadro de Pegadinhas é um exemplo de produto midiático que mantém o ethos de manifestação da cultura popular, quando se apropria da espontaneidade pública que passa a ser transposta e manipulada pelos meios de comunicação de massa, objetivando ampliar sua audiência e fidelizar seu público. 

Os excessos apresentados no quadro Pegadinha do Mução transformam em objeto de irrisão os personagens pertencentes a classes menos favorecidas ou que estão em posições desiguais no meio social e não trazem senão um afastamento de seu público em relação à consciência crítica sobre os problemas sociais, valoriza o vocabulário baixo, além de fortalecer estereótipos.



Referências:

RN: Justiça condena rádio a pagar R$ 25 mil à vítima de pegadinha. Disponível em  

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