A obra Humor e riso na cultura midiática - variações
e permanências, de Roberto Elísio dos Santos e Regina Rossetti (orgs.) trás
em seu penúltimo capítulo uma abordagem acerca do humor na programação radiofônica,
identificando historicamente como esse recurso sonoro tem sido trabalho e suas
aplicações para atrair ouvintes e patrocinadores.
Intitulado "Ligue o rádio: garantia de boas
gargalhadas!", o texto produzido por Rúbia Vasques* explana que a
gargalhada, enquanto manifestação sonora do riso, é um meio bastante utilizado
nos programas de entretenimento, bem como na publicidade apesar de o rádio ser
um veículo de comunicação de massa em posição "desfavorecida" em
relação a outros meios, já que não trabalha com imagens. Para tanto, deve
possuir uma linguagem "participativa, dialógica e bidirecional. Isso para
que ela seja verdadeiramente comunicação e não meramente participação, difusão".
(P. 189). Deve exigir ainda domínio das técnicas necessárias para a produção da
piada, tais como o ritmo, entonação e elaboração e divisão dos quadros humorísticos.
A autora faz uma
observação para o humor cruel, apropriador de estereótipos e assuntos
relacionados ao nosso cotidiano que, nos produtos midiáticos, adquirem um teor
que desvaloriza determinados grupos ou indivíduos sociais:
Há quem extrapole o humor, buscando ridicularizar e caracterizar ao extremo àqueles considerados humildes e marginalizados na sociedade. Com certa frequência ouvem-se caracterizações como, por exemplo, de homossexual, bêbado, idoso, gago, criança, entre outros. (SANTOS; ROSSETTI, 2012, p. 189.)
Humor, segundo o
dicionário Michaelis (1998, p. 1117) é definido como a capacidade de
compreender, apreciar ou expressar coisas cômicas, engraçadas ou divertidas. Em
um programa de rádio ele resultará em riso por intermédio de nossa capacidade
de imaginação que irá transformar aquilo que ouvimos em personagens e cenários.
Isso é possível graças aos hemisférios esquerdo e direito do cérebro, responsáveis
pelo controle da fala e o uso do pensamento criativo, respectivamente. Vasques
segue dizendo que a sensação auditiva é produzida no ouvido por deslocamento de
partículas ou pela pressão do ar mediante movimentos organizados de moléculas
por meios vibrantes que, em sequencia, produzirão o som.
O humor funciona
como uma válvula de escape para as tensões diárias, na medida em que
"torna a vida mais leve em plena correria do dia a dia das cidades grandes, e/ou ser o verdadeiro
companheiro daqueles que consomem o rádio como produto auditivo." (SANTOS; ROSSETTI, p. 190).
Os quadros e
programas radiofiônicos que transmitem conteúdo humorístico o fazem objetivando
atrair ouvintes e garantir patrocinadores, de acordo com seus gêneros - jornalístico,
educativo-cultural, entretenimento, publicitário, propagandístico, de serviços
e especial - distribuídos em dois grandes grupos: o informativo e o de
entretenimento. Qualquer programa humorístico está inserido no segundo grupo.
O tom do humor nas ondas do rádio
Nesta parte do
texto Rúbia Vasques faz uma breve
abordagem histórica sobre o percurso dos programas de humor brasileiros a
partir dos trabalhos acadêmicos de pesquisadores como Luiz Arthur Ferraretto
(2001), Miriam Goldfeder (1980), Lia Calabre (2006) e Mário Ferraz Sampaio
(2006). No início da década de 30 a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro transmite
Manezinho e Quintanilha, possivelmente o primeiro humorístico do rádio
brasileiro. Na década seguinte, o humor via radiodifusão populariza-se com
PRK-30, de Max Nunes e Haroldo Barbosa; Tancredo e Trancado, de Giuseppe
Ghuiarone, e Piadas do Manduca.
Ronald Golias (1929-2005). |
A maior parte
desses programas humorísticos tinha por finalidade "divertir e agradar o
maior número possível de ouvintes". (p.194). Alguns deles como o Repórter
Esso, da Rádio Record, satirizavam os programas jornalísticos. No início dos
anos 60, surgiram os primeiros humoristas na radiodifusão carioca e paulista
como Golias, Manuel de Nóbrega, Juca Chaves, Zé Trindade, Wilza Carla e
Adoniran Barbosa.
A autora finaliza
o capítulo afirmando que apesar do surgimento de novas tecnologias, o rádio
continua sendo considerado um veículo de comunicação bastante popular e que isso
se deve ao aparato tecnológico e a seu conteúdo. Neste último ponto, Rúbia
Vasques apresenta conclusões que corroboram com o que vemos pesquisando, o grotesco,
especialmente o radiofônico, e que temos como obejeto de estudo o produto Hora
do Mução. De acordo com ela, os programas humorísticos contam com a presença
constante de personagens estereotipados e com forte apelo sexual.
Os temas geralmente perpassam pelo sexo opub por entonações sensuais das piadas. Isso quando não há o deliberado escracho dos ouvintes por parte dos apresentadores, com concordância do próprio participante, de amigos e familiares. (P. 196).
Assim como seus
predecessores, o humor na grade de programação do rádio brasileiro é utilizado
como meio de "amenizar e suavizar" a vida de seus ouvintes.
Biliografia: SANTOS, Roberto
Elísio dos; ROSSETTI, Regina. Humor e riso na cultura midiática: variações epermanências. São Paulo: Paulinas, 2012. P. 188-198.
*Rúbia
Vasques é mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo
(Umesp).
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