sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Ligue o rádio: garantia de boas gargalhadas


A obra Humor e riso na cultura midiática - variações e permanências, de Roberto Elísio dos Santos e Regina Rossetti (orgs.) trás em seu penúltimo capítulo uma abordagem acerca do humor na programação radiofônica, identificando historicamente como esse recurso sonoro tem sido trabalho e suas aplicações para atrair ouvintes e patrocinadores.

Intitulado "Ligue o rádio: garantia de boas gargalhadas!", o texto produzido por Rúbia Vasques* explana que a gargalhada, enquanto manifestação sonora do riso, é um meio bastante utilizado nos programas de entretenimento, bem como na publicidade apesar de o rádio ser um veículo de comunicação de massa em posição "desfavorecida" em relação a outros meios, já que não trabalha com imagens. Para tanto, deve possuir uma linguagem "participativa, dialógica e bidirecional. Isso para que ela seja verdadeiramente comunicação e não meramente participação, difusão". (P. 189). Deve exigir ainda domínio das técnicas necessárias para a produção da piada, tais como o ritmo, entonação e elaboração e divisão dos quadros humorísticos.

A autora faz uma observação para o humor cruel, apropriador de estereótipos e assuntos relacionados ao nosso cotidiano que, nos produtos midiáticos, adquirem um teor que desvaloriza determinados grupos ou indivíduos sociais:

Há quem extrapole o humor, buscando ridicularizar e caracterizar ao extremo àqueles considerados humildes e marginalizados na sociedade. Com certa frequência ouvem-se caracterizações como, por exemplo, de homossexual, bêbado, idoso, gago, criança, entre outros. (SANTOS; ROSSETTI, 2012, p. 189.)


Humor, segundo o dicionário Michaelis (1998, p. 1117) é definido como a capacidade de compreender, apreciar ou expressar coisas cômicas, engraçadas ou divertidas. Em um programa de rádio ele resultará em riso por intermédio de nossa capacidade de imaginação que irá transformar aquilo que ouvimos em personagens e cenários. Isso é possível graças aos hemisférios esquerdo e direito do cérebro, responsáveis pelo controle da fala e o uso do pensamento criativo, respectivamente. Vasques segue dizendo que a sensação auditiva é produzida no ouvido por deslocamento de partículas ou pela pressão do ar mediante movimentos organizados de moléculas por meios vibrantes que, em sequencia, produzirão o som.

O humor funciona como uma válvula de escape para as tensões diárias, na medida em que "torna a vida mais leve em plena correria do dia a dia das  cidades grandes, e/ou ser o verdadeiro companheiro daqueles que consomem o rádio como produto auditivo." (SANTOS; ROSSETTI, p. 190).

Os quadros e programas radiofiônicos que transmitem conteúdo humorístico o fazem objetivando atrair ouvintes e garantir patrocinadores, de acordo com seus gêneros - jornalístico, educativo-cultural, entretenimento, publicitário, propagandístico, de serviços e especial - distribuídos em dois grandes grupos: o informativo e o de entretenimento. Qualquer programa humorístico está inserido no segundo grupo.

O tom do humor nas ondas do rádio

Nesta parte do texto Rúbia Vasques faz uma breve abordagem histórica sobre o percurso dos programas de humor brasileiros a partir dos trabalhos acadêmicos de pesquisadores como Luiz Arthur Ferraretto (2001), Miriam Goldfeder (1980), Lia Calabre (2006) e Mário Ferraz Sampaio (2006). No início da década de 30 a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro transmite Manezinho e Quintanilha, possivelmente o primeiro humorístico do rádio brasileiro. Na década seguinte, o humor via radiodifusão populariza-se com PRK-30, de Max Nunes e Haroldo Barbosa; Tancredo e Trancado, de Giuseppe Ghuiarone, e Piadas do Manduca.

Ronald Golias (1929-2005).
A maior parte desses programas humorísticos tinha por finalidade "divertir e agradar o maior número possível de ouvintes". (p.194). Alguns deles como o Repórter Esso, da Rádio Record, satirizavam os programas jornalísticos. No início dos anos 60, surgiram os primeiros humoristas na radiodifusão carioca e paulista como Golias, Manuel de Nóbrega, Juca Chaves, Zé Trindade, Wilza Carla e Adoniran Barbosa.

A autora finaliza o capítulo afirmando que apesar do surgimento de novas tecnologias, o rádio continua sendo considerado um veículo de comunicação bastante popular e que isso se deve ao aparato tecnológico e a seu conteúdo. Neste último ponto, Rúbia Vasques apresenta conclusões que corroboram com o que vemos pesquisando, o grotesco, especialmente o radiofônico, e que temos como obejeto de estudo o produto Hora do Mução. De acordo com ela, os programas humorísticos contam com a presença constante de personagens estereotipados e com forte apelo sexual.



Os temas geralmente perpassam pelo sexo opub por entonações sensuais das piadas. Isso quando não há o deliberado escracho dos ouvintes por parte dos apresentadores, com concordância do próprio participante, de amigos e familiares. (P. 196).

Assim como seus predecessores, o humor na grade de programação do rádio brasileiro é utilizado como meio de "amenizar e suavizar" a vida de seus ouvintes.



Biliografia: SANTOS, Roberto Elísio dos; ROSSETTI, Regina. Humor e riso na cultura midiática: variações epermanências. São Paulo: Paulinas, 2012. P. 188-198.

 *Rúbia Vasques é mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp).

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