Muito além do "fazer rir", o grotesco tem também a finalidade de chocar. Esse recurso estético é caracterizado por
apoderar-se do rebaixamento corporal, mediado por deslocamentos de sentido e por
referências às partes baixas do corpo, tais como os órgãos genitais e tudo o que é
produzido por eles (urina, fezes, flatulências, etc.). A
mostruosidade, vista em geral através das deformações físicas, também
pode constatemente ser encontrada nas produções de conteúdo grosteco e
compõe o grotesco teratológico, uma das quatro espécies ou modalidades
expressivas defendidas pelos professores brasileiros Muniz Sodré e Raquel Paiva na obra O império do grotesco (2002), as outras três são, a
saber, chocante, crítica e escatológica - esta última pode ser definida com o que inicia a postagem, ou seja representa situações que fazem referência a dejetos e secreções corporais, partes baixas do corpo, entre muitos outros.
A mostruosidade e a conotação sexual ou
o ato libidinoso mostrado no
cinema, na TV, em revistas, jornais e internet, e constantemente reproduzidos
nas letras musicais e nas piadas de humorísticos do rádio, constitui um dos
mecanismos mais utilizados por esses veículos de comunicação de massa como forma
de obter visibilidade, alavancar a audiência, consquistar públicos e,
obviamente, obter lucratividade.
De acordo com Santaella (1992, p. 19) um dos aspectos das mídias está na concorrência existente entre esses meios, ao afirmar: “[...] mídias da mesma natureza, velada ou abertamente, competem entre si: canais de TV, jornais, revistas, etc. lutam pelos primeiros lugares de vendagem e audiência”. A partir das afirmações da autora é cabível fazer uma analogia acerca do que foi dito por Silverstone (1999). Segundo ele, são três os mecanismos de engajamento textual utilizados pelas mídias para persuadir, agradar e seduzir para, com isso, atrair o público desejado: a) a retórica, b) a poética e c) o erotismo. Para o autor, a linguagem midiática é persuasiva ao passo em que busca influenciar, mudar pensamentos, atitudes e valores a fim de alcançar interesses próprios. Ela produz encantamento por sua capacidade de criar histórias distantes do mundo real, que provocam fascínio, estimulando o prazer. Este, por sua vez, costuma manifestar-se acompanhado de certa dose de erotismo
O
termo "grotesco" origina-se de la grota (“gruta”, “porão”, em italiano) e surgiu a partir
do final do século XV, em Roma, para denominar ornamentos estranhos
inicialmente encontrados através de escavações realizadas no porão do Palácio de
Nero, em frente ao Coliseu; no século XIX, o fenômeno passa a ser considerado uma categoria estética. Victor Hugo foi o primeiro a teorizar o grotesco na obra Cromwell, a qual enfatiza a importância a sua no drama e critica fortemente as idealizações artísticas, abrindo espaço para o extravagante, o feio, o desproporcional que passam a ser vistos por Hugo como a reinterpretação culta da espontaneidade popular. Visão semelhante à tida pelo teórico russo Mikhail Bakhtin em sua obra A cultura popular na Idade Média e no Renascimento - o contexto de François Rabelais, na qual compreende que o grotesco se dá pela cultura popular por concebê-lo como um corpo social que se opõe ao corpo clássico, a exemplo do Carnaval em que a proibição imposta pela sociedade dita elevada é transformada em alegria nos festejos carnavalescos, caracterizados pela inversão de valores, status, ordem, sexualidade, etc.:
Ao contrário da festa oficial, o carnaval era o fundo de uma espécie de libertação temporária da verdade dominante e do regime vigente, de abolição provisória de todas as relações hierárquicas, privilégios, regras e tabus. Era a autêntica festa do tempo, a do futuro, das alternâncias e renovações... (BAKHTIN, 1987, p. 8-9).
No Renascimento, a utilização de expressões grotescas com forte referência às partes baixas do corpo, dejetos, entre outras, estava presente nas feiras, praças e festas e provisoriamente desfaziam as relações hierárquicas entre os indivíduos participantes. Nesses ambientes encontrava-se uma espécie de linguagem baixa e grosseira, típica do vocabulário familiar, “[...] isso produziu o aparecimento de uma linguagem carnavalesca típica, da qual encontramos numerosas amostras em Rabelais” (BAKHTIN, 1987, p. 9).
A cultura popular está geralmente associada ao espetáculo junto à massa economicamente subalterna, que comparece aos espaços públicos para divertir-se por meio do contato com artistas para contemplar os festejos típicos destes locais. Com o desenvolvimento da chamada sociedade de massa há a transferência da atmosfera de “praça” popular para os veículos de comunicação midiática, a começar pelo rádio e em seguida à geração televisiva. É o caso das encenações melodramáticas (radionovelas, telenovelas), jogos de feira (competições, sorteios, etc.), variedades (programas de auditórios, shows, atrações circenses), entre outros.
Referências bibliográficas:
A Estética do Grotesco Presente no Quadro Radiofônico “Pegadinha do Mução”. disponível em: http://portalintercom.org.br/anais/nordeste2013/resumos/R37-0117-2.pdf . Acesso em: 29/10/2013.
BAKHTIN, Mikhail. A cultura na Idade Média e no Renascimento – o contexto de François
Rabelais / tradução de Yara Frateschi. São Paulo: HUCITEC, Brasília, 1987.
Rabelais / tradução de Yara Frateschi. São Paulo: HUCITEC, Brasília, 1987.
SANTAELLA, Lúcia. Matrizes da linguagem e pensamento – sonora, visual, verbal: aplicações na hipermídia. São Paulo: Iluminus, 2001.
SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? Londres: Sage Publications, 1999.
SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? Londres: Sage Publications, 1999.
SODRÉ, Muniz. A comunicação do grotesco. Petrópolis: Vozes, 1972.
SODRÉ, Muniz, PAIVA, Raquel. O império do grotesco. Rio de Janeiro: Mauad, 2002.
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