terça-feira, 20 de agosto de 2013

O rádio e a experiência estética na constituição do ouvinte

Adriano Lopes Gomes



O texto a seguir constitui um resumo extraído do trabalho do professor doutor do Departamento de Comunicação Social e do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Adriano Lopes Gomes.


Foto: Google.
O rádio é um veículo de comunicação de massa que apresenta o sentido midiático da alteridade, ao produzir qualquer programa, o produtor deve ter em mente a noção de que vai dizer alguma coisa a alguém cujo conteúdo deve ser interessante, inteligível e que, sobremaneira, possa catalisar a atenção para aquilo que é comunicado. O outro, é o ouvinte por excelência, cujo imaginário reveste-se de singular aspecto ao se engajar no ato da escuta. O “eu” que fala e o “outro” que ouve mantêm, assim, estreita relação midiática, tendo a mensagem como ponto de concentração no qual irá se inscrever o processo de revelação dos sentidos.

A linguagem radiofônica, bem o sabemos, reúne elementos da oralidade, muitos de natureza paralinguística. Sendo linguagem falada, ainda que, ao narrar, o locutor venha a se apoiar em texto escrito, o espaço simbólico que daí resulta permite a inserção de componentes que vão além do simples gosto por ouvir rádio. Na ausência de imagens eletrônicas, o rádio passa a evocar situações próprias do imaginário do ouvinte. Por imaginário, entendemos o processo de cognição que decorre da capacidade de fantasiar, criar e representar imagens mentais. O imaginário é, por natureza, a faculdade que evoca situações ausentes ou distantes, reais ou fictícias, presentificando-as no universo mental do sujeito.


  Fonte: site Uol


A linguagem, por si só, apresenta a noção de incompletude, convocando os sujeitos a preencher ou completar as lacunas quase sempre permitidas no ato comunicacional. É no imaginário, portanto, onde as relações de sentidos se complementam.

A emissão sonora de qualquer produto radiofônico provoca determinados efeitos de recepção nos ouvintes situados nas esferas racional, sensorial e emocional capazes de afetar os modos de acercamento e compreensão da escuta. Decorrem desse fato, os níveis de julgamento do valor estético na audição tanto quanto da sensação que os produtos radiofônicos evocam nos sujeitos em situações midiáticas.

Os três estados do prazer estético e suas relações com o ouvinte

  • Poiesis: o leitor vivencia uma fruição compreensiva e sente-se co-autor da obra. No ato da escuta, há uma espécie de atitude colaborativa entre locutor e ouvinte onde entram em jogo as intenções comunicativas e o repertório de informações de ambas as partes, gerando, assim, pontos de contato para fins de engajamento e atribuição de sentidos à mensagem veiculada.

  • Aisthesis, o leitor experimenta uma sensação prazerosa pelos afetos provocados através da linguagem poética que o conduz à experiência estética, sobretudo quando há uma tal ordem de identificação com o objeto de percepção.

  • Katharsis, também designada por Jauss (In Lima, 2002:87) como “estética psicanalista”, o leitor libera a psique através da descoberta de sentidos ou compreensão provocada pela obra e leva o espectador a assumir novas normas de comportamento social (Zilberman, 1989: 57).


A depender da natureza do programa radiofônico, a locução irá traduzir certas impressões nos ouvintes: situações de suspense e desespero, estados de alegria ou tristeza, das quais resultam certos sentidos quando o locutor acentua determinadas palavras, formula inflexões ascendentes ou descendentes, alonga determinados vocábulos, enfatiza interjeições, destaca sílabas, faz pausas, fala mais alto ou de modo brando, adicionando-se, ainda, os recursos artísticos da sonoplastia. 


Cada uma dessas características imprime um fluxo intenso de comunicação possível de suscitar atividade cognitiva nos ouvintes, promovendo-lhes interesse, atenção, concentração, engajamento e prazer. Nesses instantes, os ouvintes são afetados por força do efeito estético produzido pela locução, consubstanciado pela voz do locutor em cuja atmosfera do imaginário os ouvintes assumem a função de co-criadores (poiesis) da peça radiofônica em evidência, ao reunir significados presentes no processo compartilhado de compreensão. 

Ouve-se rádio porque é um meio que atrai o ouvinte por sua natureza própria de promover sentidos que perpassam pelo prazer, identificação e catarse, como bem revela a estética da recepção. E como é da essência humana gostar de sentir prazer, a cada dia o rádio é revisitado, instaurando o caráter de permanência, razão pela qual demovemos a idéia de que as novas tecnologias ou a era digital podem comprometer a sua existência no campo da comunicação midiática


Para ler o texto completo, clique aqui.

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