terça-feira, 27 de agosto de 2013

Bergson: Sobre o cômico e o riso


O riso está presente em nosso cotidiano, nas mais diversas sociedades e sob as mais variadas modalidades expressivas. É possível rir de tudo: do palhaço  fazendo estripolias no picadeiro, à tragédia envolvendo dezenas de vítimas fatais. Rimos porque somos humanos. Nossa espécie é a única que ri em todo o planeta e nenhum outro ser, inanimado ou não, possui o "dom" da comicidade. Mesmo um objeto ou animal que aparentemente suscite o riso é capaz de tal habilidade, eles apenas possuem características que lembram nossas atitudes.  Isso porque, como já dizia Aristóteles, o riso é propriamente humano.

Na obra O riso - ensaio sobre a significação do cômico, o filósofo francês Henri Bergson reúne as ideias apresentadas e defendidas por ele em três artigos publicados na Revue de Paris, em 1899. Na obra, Bergson pontua os mecanismos que, segundo ele, são determinantes no processo de produção do cômico e defende a existência de uma certa insenbilidade que naturalmente acompanha o riso, fundadamentalmente oriundo das relações sociais, funcionando como uma "resposta a certas exigências da vida comum". (BERGSON, 1899, p. 17).

A risada decorre, então, das atitudes involuntárias do corpo, das formas desajeitadas, dos desvios e do exagero, bem como do feio. Essas características são igualmente válidas para as linguagens verbal e escrita quando estão inseridas em uma ideia absurda ou distante dos padrões preestabelecidos:

(...)  A maior parte das palavras que dizemos apresenta um sentido físico e um sentido moral segundo as tomamos em sentido próprio ou figurado (...) Obtém-se sentido cômico quando se toma em sentido próprio uma expressão utilizada em sentido figurado (p.75-76).


Foto: reprodução do Twitter.

Para Bergson, o riso possui sentido e alcance sociais e constitui uma inadaptação particular da pessoa ao ambiente social. Dentre as condições necessárias para atingir o cômico estão a insociabilidade do personagem e a insensibilidade do telespectador que ri objetivando intimidar, humilhar como se estivesse "corrigindo" o outro socialmente. De acordo com o autor, "o riso é, antes de qualquer coisa, uma correção. Feito para humilhar, deverá infligir à pessoa que é seu objeto uma impressão penosa" (BARGSON, p. 16).






Observe agora as imagens acima, elas foram publicadas no Instagram, rede social para compartilhamento de fotos. Na primeira foto, temos um exemplo de inversão de significado em que a frase "#OGiganteAcordou", fortemente utilizada nas manifestações de rua deste ano, é inserida em uma outra situação, mais escatológica. Observe que como foi dito no início deste post, o animal mostrado nesta foto não produduz o efeito risível, mas é associado a uma característica humana, neste caso ao órgão genital masculino.


Na ilustração seguinte, a imagem na qual uma mulher encosta o rosto na poltrona do ônibus enquanto dorme com o subtítulo "a cara da segunda-feira", uma analogia ao primeiro dia útil da semana, conhecido como o "dia da preguiça". Entretanto, o título da fotografia recebe um termo de baixo calão: #SonoDaPorra. 


Foto: reprodução do Instagram.
A imagem ao lado também foi extraída do perfil do Mução no Instagram e aparentemente copiada da Internet. Intitulada "UFSeco", o nome faz um trocadilho com o UFC (Ultimate Fighting Championship), a maior organização americana de artes marciais mistas ou MMA. Neste caso, a última letra da sigla é substituída pelo adjetivo "seco" que no sentido popular assume o significado de "pessoa magérrima", uma forma de ridicularizar o  aspecto físico do indivíduo. Já a frase "Mais fino que a voz do Anderson Silva" é uma maneira de tornar risível o famoso lutador brasileiro ao mesmo tempo em que reforça a magraza do indivíduo mostrado na foto.
A "insensibilidade" citada por Bergson que aparece aqui e nas imagens anteriores comprova que o riso proveniente das fotografias publicadas na rede social e no microblog do Mução supera o respeito à pessoa comum e ao seu direito de imagem.





Referências:

BERGSON, H. O Riso – ensaio sobre o significado do cômico. Lisboa: Guimarães Editores, 1993. p. 16-76.

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