sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O grotesco estetizado no cinema



La Grande Bouffe, filme franco-italiano de 1973 dirigido por Marco Ferreri.
O penúltimo capítulo de O Império do Grotesco visa demonstrar essa categoria estética e suas modalidades expressivas no cinema. Para tanto, é feita a descrição completa de um dos episódios do filme italiano Signore e Signori, Buona Notte (1976). Nele, são encontrados os principais elementos do grotesco escatológico que transforma a gravidade da ocasião e do personagem em veículo de irrisão. O grotesco estetizado no cinema surgiu na Europa a partir de 1973, com La Grande Bouffe, de Marco Ferreri: um grupo se reúne ao redor da mesa e come animalescamente até a morte.

Em La Dona Scimmia, de Fellini, o grotesco apresenta-se como teratológico (uma mulher começa a ter no corpo pelos semelhantes aos de um macaco). Já em O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante, de Peter Greenaway, o fenômeno está inserido em diversas modalidades: escatológica (excrementos atirados contra um personagem), canibalismo (um cadáver é degustado), morte bizarra (personagem morre sufocado sobre um livro), etc.

Na cinematografia norte-americana podem ser citados Freaks (1932), dirigido por Tod Browning; American Pie (anos 90) e o desenho animado Shrek (2001) como exemplos de grotescos teratológico, escatológico e paródico - crítico, respectivamente. O grotesco paródia inicia-se no cinema brasileiro durante as décadas de 40 a 60 sob o nome de  “chanchadas”, filmes (Aviso aos Navegantes, Carnaval no Fogo, entre outros) em que predominava a comédia, a estética da palhaçada e a da paródia, características das farsas e do teatro burlesco.



Trailer de Freaks, filme norte-americano, produzido em 1932.

O grotesco aparece em exemplos melodramáticos e escatológicos tais como Macunaíma de Joaquim Pedro de Andrade (em uma das cenas um dos personagens movimenta-se numa gangorra sobre uma feijoada gigantesca com partes de corpos humanos). Outro é O Grande Mentecapto (1987), de Oswaldo Caldeira (o protagonista defeca na frente do ventilador que girava sobre uma festa, atingindo figuras ilustres da classe dirigente mineira). Para finalizar este capítulo, Muniz Sodré e Raquel Paiva concluem que o grotesco é uma categoria ampla, com vários aspectos, capaz de ampliar-se a uma  infinidade de situações - seja na literatura seja no cinema (p.101).





SODRÉ, Muniz; PAIVA, Raquel. O império do grotesco. Rio de Janeiro: MAUD, 2002.

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