O dia de hoje é celebrado por muitos cristãos como a Sexta-feira Santa, ou Sexta-feira da Paixão. É a sexta-feira que antecede o Domingo de Páscoa que, por sua vez, representa a ressurreição de Jesus Cristo após morrer na cruz, ser sepultado e ressuscitar ao terceiro dia. Trata-se da data em que os cristãos relembram o julgamento, paixão, crucificação, morte e sepultura de Cristo, através de diversos ritos religiosos. No Catolicismo, por exemplo, há a celebração e contemplação do Cristo crucificado, pois as regras litúrgicas prescrevem que neste dia e no seguinte (Sábado Santo, ou Sábado de Aleluia) se venere o crucifixo com o gesto da genuflexão, ou seja, de joelhos.
E é neste contexto que abordaremos a intrínseca relação da imagem do Cristo crucificado, e de outros símbolos da Sexta-feira da Paixão, com o mundo do grotesco. Primeiro, observe a reprodução abaixo:
Jesus na cruz entre os dois ladrões. 1619-1620. Por Rubens. Museu Real de Belas Artes de Antuérpia, na Bélgica. |
Imagens sacras como esta são comuns nas artes sacras das culturas ocidentais e costumam expressar, em sua maioria, forte dramaticidade e carga emotiva, estando geralmente associadas a acontecimentos relatados nos textos bíblicos que têm Jesus como o maior símbolo dessas representações religiosas. A imagem de um homem seminu, com diversas escoriações pelo corpo, ocasionadas pelas agressões físicas que sofrera antes de ter os pés e mãos pregados em uma estaca em formato de cruz e que, nos instantes anteriores à sua morte, tem o corpo perfurado por uma lança. Uma descrição que, ao invés de horror, é tida como instrumento de "reflexão" ou mesmo de "avivamento espiritual" por muitos cristãos, especialmente entre os católicos.
A crucificação de Jesus foi um evento que ocorreu no século I d.C. Jesus, que os cristãos acreditam ser o Filho de Deus e também o Messias, foi preso, julgado pelo Sinédrio e condenado por Pôncio Pilatos a ser flagelado e finalmente executado na cruz. Coletivamente chamados de Paixão, o sofrimento e morte de Jesus representam aspectos centrais da teologia cristã, incluindo as doutrinas da salvação e da expiação.
Foto: reprodução. |
O drama relata as últimas doze horas da vida de Jesus Cristo , antes da crucificação. São faladas no filme as línguas usadas na época de Jesus Cristo: aramaico, latim e hebraico. A paixão de Cristo teve o orçamento de 25 milhões de dólares e rendeu mundialmente em torno de 611 milhões de dólares.
Além do cinema e das imagens sacras, a representação da dor e do sofrimento extremos de Jesus podem ser encontradas nas peças teatrais nesta época do ano. É o caso de Nova Jerusalém, o maior teatro a céu aberto mundo.
Judas foi um dos 12 apóstolos de Jesus Cristo que, de acordo com os Evangelhos, veio a ser o traidor quando entregou Jesus aos seus capturadores por 30 moedas de prata, porém arrependeu-se e cometeu suicídio por enforcamento. Continua sendo tradição popular em alguns lugares do Brasil e da América Latina "Malhar o Judas" no Sábado de Aleluia, como uma maneira de vingar a traição de Iscariotes que teve como consequência a morte do Filho de Deus.
Aqui, o ato começou a ser praticado no Rio de Janeiro a partir do século XVIII e caracterizava-se pela utilização de um boneco com fogos de artifício presos ao ventre. Com o passar do tempo, a Malhação do Judas recebeu um novo significado, o de crítica social, em que políticos e pessoas que de alguma forma descumpriram os "dogmas sociais" recebem o papel de Judas Iscariotes. São suspeitos de corrupção, de assassinatos que repercutiram na mídia, entre outros. No momento da "malhação", é característico, entre as crianças e adultos, usar paus com pregos e a exteriorização dos sentimentos através de frases do tipo: “Maldito"! "Traidor"! "Vamos queimar essa porcaria"! Um dia da caça, outro do caçador!” e muitos outros. A "Malhação do Judas" funciona como uma válvula de escape.
Nas imagens abaixo (da esquerda para a direita), registro de uma malhação do Judas em Santos, 1978 (Foto: jornal A Tribuna de Santos); Em 2010, os personagens do Judas foram representados pelo casal Nardone, assassinos de Izabella, de cinco anos (Foto: r7); E em Curitiba, boneco representando o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Nelson Justus, foi "malhado" (Foto: r7).
O que pode ser observado nesse contexto são as características inerentes à
estética do grotesco, especificamente, a Espécie Chocante, pois explora elementos como a dor provocada pela agressão física, o sangue, a tragédia e a crueldade humana vistos na morte de Jesus Cristo. Tanto as imagens em estilo Barroco de Cristo crucificado, quanto os eventos da Semana Santa, tais como a Sexta-feira Santa, têm em comum a finalidade de sensibilizar, comover o público/plateia mediante um choque perceptivo que resultam em uma reflexão ou avivamento espiritual.
Referências:
http://noticias.r7.com/sao-paulo/fotos/populacao-malha-bonecos-do-casal-nardoni-20100403-2.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Crucifica%C3%A7%C3%A3o_de_Jesus
https://www.youtube.com/watch?v=rvLxEnYIRnA
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