A obra Humor e riso na cultura midiática - variações
e permanências, de Roberto Elísio dos Santos e Regina Rossetti (orgs.) trás
em seu penúltimo capítulo uma abordagem acerca do humor na programação radiofônica,
identificando historicamente como esse recurso sonoro tem sido trabalho e suas
aplicações para atrair ouvintes e patrocinadores.
Intitulado "Ligue o rádio: garantia de boas
gargalhadas!", o texto produzido por Rúbia Vasques* explana que a
gargalhada, enquanto manifestação sonora do riso, é um meio bastante utilizado
nos programas de entretenimento, bem como na publicidade apesar de o rádio ser
um veículo de comunicação de massa em posição "desfavorecida" em
relação a outros meios, já que não trabalha com imagens. Para tanto, deve
possuir uma linguagem "participativa, dialógica e bidirecional. Isso para
que ela seja verdadeiramente comunicação e não meramente participação, difusão".
(P. 189). Deve exigir ainda domínio das técnicas necessárias para a produção da
piada, tais como o ritmo, entonação e elaboração e divisão dos quadros humorísticos.
A autora faz uma
observação para o humor cruel, apropriador de estereótipos e assuntos
relacionados ao nosso cotidiano que, nos produtos midiáticos, adquirem um teor
que desvaloriza determinados grupos ou indivíduos sociais:
Há quem extrapole o humor, buscando ridicularizar e caracterizar ao extremo àqueles considerados humildes e marginalizados na sociedade. Com certa frequência ouvem-se caracterizações como, por exemplo, de homossexual, bêbado, idoso, gago, criança, entre outros. (SANTOS; ROSSETTI, 2012, p. 189.)

O humor funciona
como uma válvula de escape para as tensões diárias, na medida em que
"torna a vida mais leve em plena correria do dia a dia das cidades grandes, e/ou ser o verdadeiro
companheiro daqueles que consomem o rádio como produto auditivo." (SANTOS; ROSSETTI, p. 190).
Os quadros e
programas radiofiônicos que transmitem conteúdo humorístico o fazem objetivando
atrair ouvintes e garantir patrocinadores, de acordo com seus gêneros - jornalístico,
educativo-cultural, entretenimento, publicitário, propagandístico, de serviços
e especial - distribuídos em dois grandes grupos: o informativo e o de
entretenimento. Qualquer programa humorístico está inserido no segundo grupo.
O tom do humor nas ondas do rádio
Nesta parte do
texto Rúbia Vasques faz uma breve
abordagem histórica sobre o percurso dos programas de humor brasileiros a
partir dos trabalhos acadêmicos de pesquisadores como Luiz Arthur Ferraretto
(2001), Miriam Goldfeder (1980), Lia Calabre (2006) e Mário Ferraz Sampaio
(2006). No início da década de 30 a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro transmite
Manezinho e Quintanilha, possivelmente o primeiro humorístico do rádio
brasileiro. Na década seguinte, o humor via radiodifusão populariza-se com
PRK-30, de Max Nunes e Haroldo Barbosa; Tancredo e Trancado, de Giuseppe
Ghuiarone, e Piadas do Manduca.
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Ronald Golias (1929-2005). |
A maior parte
desses programas humorísticos tinha por finalidade "divertir e agradar o
maior número possível de ouvintes". (p.194). Alguns deles como o Repórter
Esso, da Rádio Record, satirizavam os programas jornalísticos. No início dos
anos 60, surgiram os primeiros humoristas na radiodifusão carioca e paulista
como Golias, Manuel de Nóbrega, Juca Chaves, Zé Trindade, Wilza Carla e
Adoniran Barbosa.
A autora finaliza
o capítulo afirmando que apesar do surgimento de novas tecnologias, o rádio
continua sendo considerado um veículo de comunicação bastante popular e que isso
se deve ao aparato tecnológico e a seu conteúdo. Neste último ponto, Rúbia
Vasques apresenta conclusões que corroboram com o que vemos pesquisando, o grotesco,
especialmente o radiofônico, e que temos como obejeto de estudo o produto Hora
do Mução. De acordo com ela, os programas humorísticos contam com a presença
constante de personagens estereotipados e com forte apelo sexual.
Os temas geralmente perpassam pelo sexo opub por entonações sensuais das piadas. Isso quando não há o deliberado escracho dos ouvintes por parte dos apresentadores, com concordância do próprio participante, de amigos e familiares. (P. 196).
Assim como seus
predecessores, o humor na grade de programação do rádio brasileiro é utilizado
como meio de "amenizar e suavizar" a vida de seus ouvintes.
Biliografia: SANTOS, Roberto
Elísio dos; ROSSETTI, Regina. Humor e riso na cultura midiática: variações epermanências. São Paulo: Paulinas, 2012. P. 188-198.
*Rúbia
Vasques é mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo
(Umesp).
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