sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Humor nas Histórias em Quadrinhos



Ao contrário do que muitos imaginam, as Histórias em Quadrinhos não possuíam um fim humorístico. Inicialmente, o objetivo das HQs se concentrava na divulgação de assuntos envolvendo a sociedade sob uma ótica moralista e conservadora.

As primeiras histórias contadas em imagens datam do início do século XVIII e foram criadas pelo britânico William Hogarth, que narrava os acontecimentos de sua época através de desenhos sucessivos acompanhados por mensagem crítica na parte inferior de cada imagem. As imagens narradas de Hogarth eram divulgadas pela imprensa britânica, como The harlot's progress, ("O progresso da prostituta", em português), série de seis pinturas (1731) e gravuras (1732) do artista inglês e que mostra a história da jovem M. Hackabout que chega em Londres e se torna uma prostituta.

The harlot's progress, de William Hogarth

Na cena ao lado, primeira da série, uma mulher idosa elogia a beleza da personagem principal de The harlot's progress, M. Hackabout, e sugere uma ocupação rentável: a aquisição dela para o cavalheiro mostrado na parte de trás da imagem. A sequência termina com a morte da personagem principal por uma doença venérea, aos 23 anos.

William Hogarth (1697 - 1764) foi um pintor, gravador e ilustrador inglês que "possui o mérito de ter produzido narrativas iconográficas, com vários painéis em sequência contando uma história, que foram editadas em um veículo impresso, o jornal. Ou seja, ele ajudou a forjar uma forma de comunicação visual impressa de massa." (SANTOS; ROSSETTI, 2012, p.83 -84).

As técnicas de Hogarth foram sendo aperfeiçoadas ao longo do século XVIII por vários desenhistas ingleses e encontraram o ambiente propício para seus desenvolvimento e disseminação com a chegada da Revolução Industrial, que trouxe consigo novos mecanismos tecnológicos que possibilitaram o melhoramento da qualidade da impressão gráfica, além da reprodução em larga escala. Outra característica importante desse período está na consolidação da impressa como veículo de comunicação massivo e no aumento de consumidores de produtos impressos.

Mas foi o alemão Heinrich Hoffman que, em 1847, tornou-se o responsável pelas primeiras narrativas em estampas com teor humorístico, o Struwwelpeter, as mais próximas do que hoje conhecemos por História em quadrinhos. Eram narrativas cujos protagonistas representavam crianças travessas, de comportamento repreensivo:


Struwwelpeter, de Heinrich Hoffman.


O Struwwelpeter é composto por dez ilustrados e histórias rimadas, principalmente sobre as crianças. Cada um tem uma moral clara que demonstra as consequências desastrosas do mau comportamento de forma exagerada. O título da primeira história fornece o título de todo o livro. Mais tarde, em 1865, as criações do alemão Wilhelm Busch fizeram sucesso com os personagens travessos Max und Moritz (Juca e Chico, no Brasil) que inspiraram os primeiros comics norte-americanos

Happy Hooligan, de Frederick Burr Opper.
O vagabundo foi o primeiro personagem cômico da história das HQs, publicados em jornais ingleses no final do século XIX e nos impressos norte-americanos na primeira metade do século XX. Os quadrinhos denunciavam, através da sátira, a política e as personalidades de destaque da época. Um exemplo bastante conhecido são as tiras do protagonista atrapalhado Happy Hooligan,em que é possível identificar elementos que denunciam o abuso de autoridade policial.

A faixa contou as aventuras de um bem-intencionado vagabundo que encontrou um monte de desgraça e má sorte, em parte por causa de sua aparência e de sua baixa posição na sociedade, mas que não perde seu sorriso. Ele estreou com uma tira de domingo em 11 de março de 1900 em os William Randolph Hearst jornais, e foi um dos primeiros quadrinhos populares com King Features Syndicate. A tira teve fim em 14 de agosto de 1932. O Menino Amarelo (The Yeloow Kid) tornou-se o marco inicial das histórias em Quadrinhos nos Estados Unidos e precursor dos kid-strips, ou histórias de garotos, naquele país.

A concorrência entre os veículos impressos teve como consequência uma diversificação das histórias narradas em sequência. Os comics se consolidaram levando ao público histórias com enredo já conhecido por ele:


Em se tratando de um produto da Cultura Midiática, industrializado e comercial, a História em Quadrinhos (assim como os filmes de cinema, as séries de TV e a literatura) consagra determinadas estruturas narrativas, temas, ambientações e elementos iconográficos que são facilmente reconhecidos pelos leitores como pertencentes a um determinado gênero ficcional. (SANTOS; ROSSETTI, 2012, p. 91).

As tiras cômicas, entretanto, caíram no gosto do público de tal modo que nem as criações seriadas de aventura, produzidas a partir da década de 1929, como Tarzan e Buck Rogers, conseguiram substituí-las e são publicadas até hoje. Séries como Garfield narram histórias humorísticas curtas em uma sequência em poucos quadrinhos e baseadas na repetição de situações ou características dos personagens.

Garfield é criação de Jim Davis e tem suas tiras publicadas em 2570 jornais de todo o mundo. As tirinhas que dão nome ao protagonista também contam com a participação de outros personagens principais, Odie, um cão estúpido, e Jon Arbuckle, um cartunista, dono dos dois. Garfield, por sua vez, é um gato laranja listrado, preguiçoso, guloso, viciado em café, amante de televisão e acima de tudo, sarcástico. Adora chutar Odie da mesa, arrotar, caçar pássaros e carteiros, o seu prato favorito é lasanha. Odeia segunda-feira, passas, dietas (que vez ou outra Jonh lhe impõe) e caçar ratos ("Lábios que tocam num rato jamais tocarão os meus").

Garfield estreou em 19 de Junho de 1978 e possuía traços disformes, bochechas enormes e olhos pequenos. Ele já mostrava sarcasmo na sua primeira tira:


Primeira tira de Garfield  (1978), de Jim Davis (1945).




















Os personagens de Garfield sofreram mudanças estéticas com o passar dos anos, porém suas características permanecem até hoje - a exemplo da preguiça, da gula e o sarcasmo do gato (foto).





















Referências:
SANTOS, Roberto; ROSSETTI, Regina (Org.). Humor e riso na cultura midiática. São Paulo: Paulinas, 2012. Págs. 83-93.
http://en.wikipedia.org/wiki/Struwwelpeter
http://en.wikipedia.org/wiki/Happy_Hooligan 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Garfield

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