sexta-feira, 5 de julho de 2013

O rebaixamento corporal nas imagens midiáticas - Parte 1

José de Arimathéia Cordeiro Custódio*

Os programas policiais


Nem é preciso falar do chamado cinema B ou trash. O grotesco aparece nos programas policiais, de auditório, anúncios publicitários, novelas e até em jornais.

Os programas televisivos policiais - que já passaram pelo auge, mas ainda sobrevivem - defendem algum decoro, mas jamais deixam de ser grotescos no sentido dado por Bakhtin (2002). Desfocam a imagem, mas mostram o corpo morto jogado numa valeta - sempre no baixo. Ou mostram detalhes: mãos ensanguentadas, pés amarrados, roupas desajustadas, poça de sangue.

Se não é o caso da vítima, mas do criminoso, o objetivo principal é mostrar seu rosto. Claro que o acusado tenta evitar a exposição. As imagens então vão buscar alguma marca que se sobressaia da superfície regular do corpo, como uma tatuagem, um brinco, ou mesmo as algemas, que prolongam e unem os braços.

Já as testemunhas "que não querem ser identificadas" mostram apenas suas sombras ou têm suas imagens desfocadas digitalmente. Para quem assite, só chama a atenção a imagem que se destacar  de alguma forma: o nariz, o cabelo, as orelhas, talves a voz. (artigo completo).

Um espetáculo de violência

Jaime Carlos Patias

A imprensa escrita (jornais, periódicos e revistas) surgiu narrando, entre outros fatos, a violência cotidiana. Com a invenção da televisão, cenas de violência passaram a entrar nas casas dos cidadãos de forma mais intensa e instantânea. Graças à televisão, as pessoas passaram a assistir ao vivo e em cores uma batalha de guerra, tiroteios de gangues, perseguições policiais, mortes, acidentes, resgates de pessoas feridas, calamidades, tragédias familiares, brigas de rua, execuções, torturas e até suicídios. A instantaneidade das imagens causa maior impacto, garantindo o espetáculo.

Ao comentar sobre o sensacionalismo na mídia, Ramonet (1999 apud PATIAS, 2005, p. 62) lembra que

Hoje em dia a informação televisiva é essencialmente um divertimento, um espetáculo. Que ela se nutre fundamentalmente de sangue, de violência e de morte. E isto mais ainda devido à concorrência desenfreada entre as emissoras que obrigam os jornalistas a buscar o sensacional a qualquer preço, a querer ser, cada um deles, o primeiro no local e a enviar de lá imagens fortes.

Nessas condições de produção, diminuem as possibilidades que os jornalistas têm de investigar, de levantar dados, de refletir, de contextualizar os fatos. Tudo acontece muito rápido por conta dos efeitos atrativos da televisão. As novas tecnologias e progressos somados à concorrência só fazem aumentar ainda mais a velocidade. Cresce a “necessidade de ser o primeiro e o mais espetacular, o que se traduz em fatias de mercado, e por conseguinte em receita publicitária”. Nesse sentido, não seria exagerado considerar a violência e a produção do telejornal sensacionalista como um produto de mercado: “violência vende”. (artigo completo).

  Os dois maiores programas policiais brasileiros são:

Brasil Urgente


O apelo emocional também está presente nos telejornais sensascionalistas. Na imagem, Datena entrevistava, ao vivo, o marido de vítima fatal quando não conteve a emoção. As câmeras continuaram transmitindo mesmo assim.

É um programa de televisão jornalístico policial brasileiro, exibido pela Rede Bandeirantes e apresentado por José Luiz Datena.Seu formato fez muito sucesso até 2005, quando concorria com outros programas como Cidade Alerta (Record) e Repórter Cidadão (RedeTV!). Trata-se de um telejornal com uma linha popular, tendo bastante entradas ao vivo de repórteres e entrevistas; também é muito utilizado o helicóptero para a cobertura de tragédias, e são exibidas matérias gravadas sobre crimes hediondos e bizarros.

Cidade Alerta

Programa jornalístico policial brasileiro da Rede Record. Foi exibido, em sua primeira fase, de 1995 a 2005. Na segunda fase, foi ao ar de 20 de junho a 12 de setembro de 2011, inicialmente apresentado por José Luiz Datena, depois por William Travassos, Reinaldo Gottino e por último Marcelo Rezende. Voltou ao ar em sua terceira fase em 04 de junho de 2012 com a apresentação de  para o estado de São Paulo e via satélite para todo o Brasil, além de em versões locais exibidas nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Rio Grande do Norte, Pará, Santa Catarina e Ceará.


Imagem de rapaz ferido após ter sido atingido por uma pedra que caiu de um viaduto em obras. O "flagra"  foi exibido no telejornal, atualmente apresentado por Marcelo Rezende.


Não podemos esquecer de que uma transmissão jornalística, mesmo que ao vivo, é uma reprodução, sujeita a escolhas e interferências, por critérios pessoais e subjetivos, e que nada têm de pura. Tanto a transmissão direta como as reportagens em plano-sequência, imagens feitas com o cinegrafista em movimento, expressam uma noção de urgência que compromete a reflexão, anula nossa capacidade de ver as coisas com clareza, porque somos tomados pela emoção. Conforme argumenta Bourdieu, na urgência não se pode pensar. “A TV não é muito propícia à expressão do pensamento” (1997:29). Neste tipo de jornalismo, não é a palavra que conduz a narrativa, mas é a imagem que organiza as palavras. À força do espetáculo, o pensamento se rende. (PATIAS, 2005, p. 62)



*Especialista em Fotografia e Mestre em Linguística pela Universidade Estadual de Londrina.
FONTES:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil_Urgente
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade_Alerta

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