Publicidade e o Programa do Mução

A publicidade é a alma do negócio. Independente do estilo, fundamentação e objetivo de um produto comunicacional feito para a massa, a questão publicitária implícita ou explicita terá grande parcela de seu tempo e/ou conteúdo.

O Programa do Mução é um dos maiores destaques nos mundos radiofônico e do humor brasileiro, alcançando pelas ondas de praticamente todo o norte e nordeste e boa parte das demais regiões brasileiras e estando na internet por meio de sites e redes sociais. Como um grande meio de "informação" massiva, configura-se também como exemplo de persuasão entre ouvintes.

O personagem interpretado pelo jovem potiguar Rodrigo Vieira Emerenciano e os demais participantes da tribo do Mução atrai milhões de fãs e consequentemente publicidade, inserida em seus quadros para lá de controversos, repletos de gírias, palavrões, insinuações e estereótipos. O destaque do programa são as pegadinhas que vão ao ar entre 17:40 e 18:00 horas. O quadro consiste em telefonar para pessoas indicadas por familiares e amigos e insultar a vítima com fatos indesejáveis de sua vida, principalmente apelidos.

Utilizar-se do humor para fazer publicidade é uma ferramenta conhecida e eficaz do humor no Brasil, ainda no início do século XX com as revistas semanais ilustradas e os semanários. 

O termo humor possui diversos sentidos como “consciência do ridículo da condição humana. Ou ainda, como avaliou Freud, é uma condição de obter prazer. Sendo ele uma forma de proporcionar prazer e a publicidade uma maneira de vender o Programa do Mução se adequa perfeitamente como um grande vendedor, no entanto seus efeitos devem ser avaliados de acordo com linguagem do rádio e os fatores culturais e regionais presentes no programa.

O humor é considerado por muitos estudiosos uma característica social do povo nordestino. A ideia de uma caracterização regional ganhou força graças a trabalhos desenvolvidos no começo do século XX quando matérias jornalísticas, documentários e obras literárias foram realizados abordando as mazelas da região. Essa mídia também ajudou a construir a imagem de povo sofredor junto a uma outra face: a do povo que ri da própria desgraça na tentativa de suportá-la, de torná-la menos dolorosa.

A utilização do humor na publicidade do programa tem como característica marcante a inserção do anúncio no próprio enredo, isto é, Mução e seus companheiros de equipe divulgam a marca do produto ou serviço no decorrer dos quadros e de maneira testemunhal. Os personagens mencionam naturalmente o produto, demonstrando sua eficácia e transformam o anúncio num quadro cômico. Cada integrante assume um personagem responsável pela encenação que levará a resolução de um conflito por intermédio da marca patrocinadora, gerando assim um testemunhal, tipo de propaganda baseada na credibilidade do locutor. 

Percebe-se  que a publicidade empregada no humorístico não se retém ao texto, mas ao ambiente cômico do programa, já conhecido pelo ouvinte do Mução. A zombaria presente nos quadros se estende ao produto  ao qual pretende ser vendido em meio a uma série de testemunhais realizados por personagens essencialmente humorísticos que exploram as características e a comicidade da atração radiofônica, construindo no imaginário do ouvinte um cenário semelhante ao do programa, fazendo com que ele tenha a sensação de que toda a publicidade apresentada nele seja mais uma parte do entretenimento do que uma publicidade propriamente dita.

Referência:
MACIEL, Nath·lia Cardoso; JÚNIOR, Francisco Virino Serpa; FILHO, Francisco Maia. Programa do Mução: humor na publicidade ou publicidade no humor? Disponível em: http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/a/a0/GT2-_IC-_04-_Programa_do_Mucao-_varios.pdf
Acesso em: 22/11/2013.