terça-feira, 19 de novembro de 2013

A arquitetura do cômico, segundo Bergson



Para finalizar o trabalho de Elizabeth Bastos Duarte intitulado "Sitcoms; das relações com o tom" presente no capítulo 6 da obra Humor e riso na cultura midiática, de Roberto Elísio e Reggina Rossetti (orgs.), apresento um breve resumo de uma das partes mais importantes do texto.


Para Bergson, as estratégias discursivas mais empregadas na arquitetura do cômico são:

  • repetição - de situações, comportamentos, atitudes;
  • referenciação - alusão ao que não é do conhecimento de todos;
  • reversibilidade - inversão de papéis;
  • ruptura - com as expetativas sociais, a transgressão de gêneros, de convenções;
  • inflexibilidade - falta de jeito;
  • oposição - apresentação do que é no lugar daquilo que deveria ser, a ironia;
  • exagero - na imitação imitação dos personagens, das situações, a caricatura, a paródia;
  • exibição - da casualidade, dos revezes da sorte, das incoerências inerentes à vida;
  • superposição - e interferências de duas ordens de fatos, de dois planos de realidade que permitem interpretações diretas, o quiproquó;
  • e, por fim, a exibição - do grotesco, do simplório, do grosseiro.

Quando se analisam os sitcoms exibidos pela Rede Globo de Televisão, constata-se que essas estratégias discursivas continuam vigindo só que na gramática televisual.  Pense-se na grande repetição que é a A grande família. Lembra-se aqui, à guisa de exemplo, o processo de referenciação (metadiscursividade e autoflexividade), representado pelos próprios títulos dos episódios deste seriado, dentre os quais citam-se: Os boçais (04/09/2002), aludindo a Os normais; Grande família, pequenos negócios ( 11/04/2002), fazendo menção ao programa Pequenas empresas, grandes negócios. Esse processo de autorreferenciação e autorreflexividade, ao indicar o tom, o faz dirigindo-se a um telespectador que, cativo da televisão, saiba identificar as referências sobre as quais o programa constrói o seu humor.

Em relação ao exagero, são repetidos jargões, jeitos e trejeitos de personagens - atores sociais ou ficcionais, apresentados pela própria televisão. Assim há sitcoms que oscilam entre seriedade e gozação ou espirituosidade e prosaicidade, dentre outros. Mas vale pontuar que as estratégias discursivas e textuais empregadas pelos sitcoms na expressão de sua combinatória tonal dirigem-se e interpelam um telespectador cativo da mídia televisiva. Só ele poderá interagir, apreender e compartilhar desse tom que muitas vezes se constrói e se expressa de forma tão autorreflexiva.



Referências:

SANTOS, Roberto; ROSSETTI, Regina (Org.). Humor e riso na cultura midiática. São Paulo: Paulinas, 2012.

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